Nas últimas semanas, os nossos parceiros da WayCarbon e nossa equipe na Fundação Dom Cabral entrevistaram mais de 25 executivos sobre o efeito da pandemia na gestão corporativa e como será o novo normal no pós-Covid-19.
Falamos com CEOs, CFOs e outros diretores de empresas multinacionais operando no Brasil e de empresas brasileiras de grande porte; e também com CEOs de fora do Brasil e três especialistas. Além disso, na semana passada, tive o prazer de participar de uma live com Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, e Marcel Fukuyama, diretor-executivo do Sistema B Global, sobre a estratégia das empresas no cenário pós-pandemia.
Vou compartilhar aqui as três maiores aprendizagens dessas conversas:
“A era da performance acabou, entramos na era da resiliência”.
Meu colega Paulo Vicente, professor na Fundação Dom Cabral, resumiu muitos comentários dos entrevistados em uma frase: “A era da performance acabou, entramos na era da resiliência”. A crise força as empresas a pensar mais holisticamente sobre seus negócios, olhando para o bem-estar dos colaboradores e também para a saúde da cadeia de valor. Novas práticas de recursos humanos e de colaboração ao longo da cadeia de valor estão emergindo e as relações com colaboradores e fornecedores não vão ser regidas mais com um único foco na eficiência. Vai entrar um olhar de resiliência, de estar preparado para a próxima crise mesmo que isso signifique um aumento nos custos.
Seja proativo.
Um dos exemplos mais citados quando perguntamos sobre empresas que responderam melhor à crise, foi o caso da Magazine Luiza. Combinando sua estratégia digital e abrindo seu marketplace em tempo recorde para pequenos negócios no projeto “Parceiro Magalu”, a empresa surpreendeu muitos.
A ação não só ajuda pequenos negócios na digitalização e a passar pela crise, mas também é uma estratégia contra a dominância de outros atores, como a Amazon, que estão crescendo muito durante a pandemia. Quem investiu no passado em home office, canais de venda digitais e entregas, levou vantagem. Outra executiva comentou: “Em cinco semanas, digitalizamos nosso negócio mais do que nos últimos cinco anos.”
A crise mostra que as empresas proativas levam vantagem e essa tendência só vai ganhar força no futuro. Em certo modo, o “jeitinho” acabou — você não resolve o impacto de uma pandemia a curto prazo. Precisa estar preparado. Por isso, algumas empresas têm além do comitê de crise, um comitê de futuro e trabalham em cenários de longo prazo, como em planos detalhados de abertura.
Cuide de sua reputação.
Quem faz mais negócios num futuro cada vez mais on-line serão as marcas mais lembradas. E lembradas positivamente. As pessoas vão procurar os sites delas. Como a liderança reage a crise, como tratam os colaboradores, como tratam os clientes e parceiros vai determinar a fidelidade, o engajamento e a motivação desses stakeholders no pós-crise.
Como falou o filósofo americano Ralph Waldo Emerson: “Suas atitudes falam tão alto que eu não consigo ouvir o que você diz”. Não são as campanhas de comunicação, mas, sim, sua atuação, que vai determinar seu employer branding, a satisfação de seus clientes e a percepção da sociedade brasileira se sua organização estava ao lado das pessoas durante a crise seja com doações, trabalho voluntário ou costurando novas parcerias inusitadas como a da AmBev, Gerdau, Einstein e da Prefeitura de São Paulo na construção de 100 leitos em 40 dias. Ver ações implementadas de maneira tão rápida pode aumentar as expectativas da sociedade no futuro frente à atuação das empresas.
Esses são só alguns dos aprendizados que coletamos até agora. Com base nas entrevistas, construímos um questionário para entender melhor como os executivos brasileiros estão enxergando o futuro. Gostaríamos de incluir sua voz nesta discussão – se quiser contribuir, responda a pesquisa aqui.
Estamos coletando as impressões de centenas de executivos agora e queremos apresentar os resultados completos até o final de julho.
*Heiko Hosomi Spitzeck é Diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral.